De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, até uma em cada três crianças e adolescentes pode ter sofrido violência entre pares. Mas o suicidologista, psicólogo e treinador Magorzata Uba admite que a escala do problema pode ser muito maior. Não há dúvida de que o comportamento violento entre as crianças está aumentando.
No ano passado, a Empowering Children Foundation publicou um relatório sobre experiências de diferentes formas de violência, incluindo violência doméstica e entre pares. Participaram do estudo crianças entre 11 e 17 anos (cerca de 2.000 foram entrevistadas). Além disso, quando questionados se já haviam sofrido alguma forma de violência por parte de um colega de trabalho, 66% das pessoas disseram que sim.
– Małgorzata Łuba diz: – E quando questionado: “Aconteceu algo assim com você no último ano de sua vida?”, 46% disseram que sim – ele acrescentou que a escala desse problema está crescendo a cada ano.
Recebi uma ligação da mãe de Yash, de 8 anos. Aneta admitiu que seu filho havia sofrido violência por parte de crianças que ela conhecia bem porque moravam na casa ao lado. – Foi uma das piores experiências da minha vida. “Eu não conseguia acreditar que crianças que eu conhecia pudessem machucar e intimidar tanto meu filho”, ela admite.
O problema começou na escola
O filho do leitor começou a primeira série no ano passado. Como ela mesma garante, ele sempre foi uma criança incrivelmente sociável, fazia amigos rapidamente e ria muito.
Depois de um tempo, percebi que ele estava se tornando mais reservado. Ele não corre mais alegremente para o jardim e chuta a bola. No entanto, embora as pessoas ao meu redor concordassem e dissessem: “É normal que as crianças experimentem maior estresse e mudanças quando vão para a escola”, no fundo eu sentia que algo estava errado.
– Dona Aneda nos conta. – Costumamos conversar em casa. Fiquei perguntando ao meu filho se ele estava preocupado com alguma coisa, se alguém o havia irritado, etc. No entanto, meu filho negou veementemente e insistiu teimosamente que estava tudo bem. Quando perguntei sobre futebol, ele disse que preferia outros jogos. Na verdade, ele gostava de jogar badminton com os amigos. Mas acrescentou que a intuição da mãe lhe diz que nem tudo ficará bem.
A verdade veio à tona por acaso
O caso foi resolvido por acaso. O marido e o filho da leitora levaram as compras do carro para o apartamento. Enquanto o homem tirava algo do porta-malas, de repente ouviu os gritos dos meninos parados na varanda, mas não os percebeu. Ele os conhecia bem, morava no mesmo quarteirão e frequentava as mesmas aulas que o filho. A princípio ele pensou que as crianças estavam apenas conversando. Mas então ele ouviu os meninos insultando seu filho e congelou. E ele abaixou a cabeça e foi até a jaula.
ficamos completamente chocados. Conversamos muito naquele dia. E não desistimos. No final, meu filho perdeu a paciência. Ele admitiu para nós que tem um menino que o incomoda muito. Ele impõe e insulta. O pior é que ele tem seu próprio “time” e eles fizeram a mesma coisa para agradá-lo, embora não tenham feito nada contra Yasik.
– diz nosso leitor. – Foi chocante para nós conhecermos o “torturador” do nosso filho. Muitas vezes o víamos no jardim. Meu marido e eu choramos e não conseguimos dormir até de manhã. Estávamos pensando em como ajudar a criança. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer conosco”, acrescentou ela.
Aneta não conseguia entender por que o filho não falava sobre seus problemas por tanto tempo. Principalmente porque ele sempre conversou muito com ela e sabia que sempre poderia contar com a ajuda dela. – Acontece que esse… garoto que estava brincando com ele, embora eu tenha que admitir que pensar nisso me fez pensar em todo tipo de palavras que nunca deveriam ser pronunciadas, ameaçou Yash. Ele disse que se arrependeria se contasse aos pais. Ele me convenceu de que também faria algo por meu irmão e enfatizou que sabia onde morávamos. Ele ameaçou tanto meu filho que ele ficou calado, acreditando que estava nos protegendo. Quando ele disse isso, pensei que meu coração iria se partir – diz o leitor com lágrimas nos olhos.
Os pais queriam “colocar tudo em ordem” sozinhos.
Dona Aneta e o marido conversavam todos os dias com o filho e iam juntos ao psicólogo para saber o que fazer e como poderiam ajudá-lo. O problema foi descoberto durante as férias de verão, por isso os professores só foram informados da situação em setembro. – Ela ficou chocada, mas tinha certeza de que não sabia de nada. Espero que ela não estivesse mentindo… mas sim o fato de ela ter me contatado uma vez por semana para me avisar se notasse algum comportamento inapropriado. Felizmente, não é esse o caso, diz a Sra. Aneda. Após uma pausa de dois meses, o homem que torturou Yash “desistiu”. Portanto, embora os pais da criança de 8 anos “se mantivessem informados sobre a situação”, não houve necessidade de mais intervenções. Inicialmente queriam se transferir, mas o filho também tinha amigos na turma e chegaram à conclusão de que ele não agiria impulsivamente.
No início, meu marido e eu procuramos esse menino e seus pais e admitimos que queríamos resolver as coisas. Iríamos usar todas as nossas armas e fazê-los sofrer as consequências do que aconteceu. Queríamos fazer justiça nós mesmos. Mas os psicólogos nos disseram para parar de fazer isso
– Dona Aneta admite. – Mas tenho que admitir que dissemos ao nosso filho que ele não pode desistir, que deve reagir e reagir sempre que alguém tentar insultá-lo. Assegurei-lhe que mesmo que houvesse uma disputa e eu fosse chamado à secretaria da escola, ele tinha o direito de se proteger e não precisava ter medo. Espero que esse pesadelo nunca volte. Porque eu não desejaria isso nem para o meu pior inimigo. Não quero que ninguém ouça de uma criança: “Mãe, e se ela não me soltar?”
As crianças que sofrem violência entre pares são muitas vezes silenciosas.
A psicóloga Maugorzata Uva explica que muitas vezes as crianças não contam a ninguém que alguém as está incomodando.
As crianças não falam porque são tímidas ou com medo de serem vistas como seus melhores amigos. Você pode estar preocupado porque conversar com um adulto não mudará nada. Contudo, as crianças vítimas de violência muitas vezes começam a acreditar que há algo de errado com elas. Esta é a maior e mais grave barreira que impede os pais de saberem tudo isto.
– ele explica. – Entre os sinais que devem sempre alertar os pais para a suspeita de que algo está acontecendo estão as mudanças no comportamento da criança. A criança pode parecer letárgica, triste, curvada e muito infeliz. Às vezes, ele pode ficar irritado ou choroso e começar a contar o que o está incomodando. Também pode aparecer comportamento rude, por exemplo, a criança começa a explodir, fica excessivamente sensível consigo mesma, briga, e nessas brigas aparece algo que não existia antes. Isto também deve ser um sinal para os adultos de que algo está acontecendo. Em alguns casos, podem isolar-se, esconder-se ou evitar o contacto, acrescentou.
Os especialistas concordam que os adultos não devem tirar conclusões precipitadas. É importante que intervenham e o primeiro passo é sempre conversar. Esta é a maneira mais fácil de verificar se algo ruim está acontecendo ou se a mudança de comportamento se deve a outros motivos.
Se os pais suspeitarem que o seu filho está a passar por algum tipo de dificuldade, talvez violência entre pares, devem primeiro falar com a criança. E só com crianças. Não falamos com seus amigos, professores, etc.
– nos dizem os psicólogos. – Esperamos que esta conversa permita que você realmente investigue o problema. Como adulto, vale a pena perguntar os fatos e quais são essas situações. Parte da conversa também inclui perguntas sobre como a criança respondeu à agressão dos colegas. Resumimos informações como conteúdo, período, participantes, etc. Tudo isto é importante, acrescentou.
Os psicólogos dizem que a violência não deve ser enfrentada com violência, e as crianças também não deveriam aprender isso. – Esta relação violenta quase sempre leva a uma escalada de toda a situação. Porém, vale considerar o fato de que quem vai embora e não volta não é quem sai perdendo. Principalmente ele dirá algo antes de sair, por exemplo “Não gosto disso”. Mesmo uma mensagem simples pode ajudar seu filho a dar sugestões, explica ele, para que ele não saia de cabeça baixa e se sinta confiante de que terá a palavra final.
É importante monitorizar o seu filho e reagir imediatamente se notar a ocorrência de violência entre pares. O alto estresse pode enfraquecer o corpo e causar ansiedade e depressão. – O sofrimento mental combinado com sentimentos de desamparo e falta de esperança pode levar a um comportamento autodestrutivo. Pode parecer a essa pessoa que apenas a morte pode ajudar. Desta forma, as crianças que sofreram violência entre pares podem começar a tirar conclusões. “A investigação mostra que as crianças que sofrem violência entre pares têm sete vezes mais probabilidades de tentar o suicídio”, explica Maugorzata-Uba.
Segundo estatísticas policiais, no ano passado ocorreram 145 suicídios e 1.994 tentativas de suicídio entre menores de 19 anos. Especialistas afirmam que esta é apenas a ponta do iceberg, pois é impossível saber o número exato de tentativas. Crianças, adolescentes e familiares muitas vezes não denunciam em lugar nenhum. A OMS sugere que um suicídio em qualquer grupo de crianças e adolescentes pode ser causado por 100 a 200 tentativas de suicídio.
Onde posso obter ajuda se meu filho sofrer violência entre pares?
As crianças que sofrem violência entre pares e os seus pais devem consultar centros de aconselhamento psicoeducacional, centros comunitários de cuidados psicopsicoterapêuticos e centros de saúde mental para crianças e adolescentes (uma lista de tais instalações pode ser encontrada no website Fundo Nacional de Saúde), Centros de intervenção em crises, centros de assistência social, organizações não governamentais que trabalham pela saúde mental de crianças e adolescentes. Os pais que necessitem de aconselhamento sobre o endereço e dados de contacto de tais instituições podem usufruir de uma consulta gratuita por telefone ou online a este respeito.
- Como parte da plataforma de educação e apoio ‘Vale a pena falar sobre a vida’ – Conselhos gratuitos sobre suicídio para pais
- No âmbito da linha de apoio do Provedor da Criança, o número gratuito 24 horas por dia, 7 dias por semana, para apoio psicológico e jurídico em relação a crianças e questões infantis: 800 12 12 12;
- Como parte da chamada telefônica para pais e professores da Empowering Children Foundation, nosso número gratuito para pais e professores que precisam de apoio e informações para ajudar crianças e jovens com problemas e desafios é: 800 100 100.
Além disso, vale a pena buscar o apoio de organizações que realizam trabalhos relacionados à prevenção da violência entre pares.
O triste estado da psiquiatria infantil na Polónia
O problema da psiquiatria infantil na Polónia tem sido levantado há muito tempo, mas infelizmente a situação é grave. Pode haver poucos especialistas, longos tempos de espera para consultas ou você pode ter que usar o serviço de forma privada, o que pode ser caro. Muitas escolas também têm problemas para encontrar psicólogos escolares. Isto se deve à frequente escassez de mão de obra.
Estão previstas 9,5 mil unidades em toda a Polónia. Foram divulgadas vagas de psicólogo escolar e 7.344 foram preenchidas. Isso significa que o número de vagas para psicólogo escolar é de aproximadamente 23,90%. Trata-se de uma diminuição de 3 por cento face ao ano passado, quando este valor era de 27 por cento. Melhorar nacionalmente
– disse Ostar Stavno, estudante em representação da Fundação GrowSpace e membro do Conselho Juvenil da cidade de Gdańsk, há algumas semanas, citado pelo site trojmiasto.pl.
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